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Artigo: Feminismo – O Movimento do Outro

Por Eliane Covolo Melgarejo, Juíza do Trabalho e Diretora Social da AMATRA IV

O feminismo não pretende sobrepor as mulheres aos homens. Não é o contrário de machismo. Tampouco pretende ignorar que os homens possam estar, em determinados lugares e contextos, em situação desfavorável de distribuição de poder, dentro da estrutura social, seja em relação a outros homens, seja inclusive em relação a determinadas mulheres.

 

O feminismo, em verdade, busca corrigir uma desigualdade histórica e estrutural de tratamento dado às mulheres, desigualdade esta decorrente de um mandato de gênero que privilegia o homem branco, proprietário e heterossexual. Busca a que não sejamos, nós mulheres, discriminadas socialmente pelo fato único de nascermos mulheres.

 

O feminismo, porém, é mais que isso. Pode ser caracterizado como o movimento do “outro”. Nós mulheres somos um outro na sociedade hegemônica. Mas há outros “outros” na nossa sociedade e o feminismo tem espaço para todos eles. Açambarcamos a totalidade daqueles que, fora do sistema binário patriarcal, tiveram suas peculiaridades desprezadas e, assim, estão sofrendo exclusões, restrições e violências por não refletirem o seu imaginário.

 

Somos de todos os sexos ou de nenhum, somos de todos os gêneros, somos os diferentes (e ninguém é mesmo igual), somos os negros, os índios, os descapacitados, os trabalhadores, os idosos, somos todos aqueles que, do mundo real, de carne e osso, não cabemos nesse molde criado e opressor.

 

Transbordamos o arquétipo político dominante. Existimos, respiramos e queremos ser felizes. Aliás, merecemos. Aderimos a um pacto anterior à maioria de nós, de coesão social, sendo credores no relativo ao respeito como cidadãos.

 

Desejamos não ser discriminados, pelo Estado ou por outros particulares, em virtude do que somos. E queremos ser livremente, sem que isso impeça o nosso acesso aos espaços sociais pelo só fato de não correspondermos a um modelo que falha em reciprocidade e em democracia.

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