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AMATRA na mídia – Parcelamento de Salários

Parcelamento de salários é o título do artigo de autoria da juíza do Trabalho Valdete Severo publicado no jornal Zero Hora. “Agimos como se não houvesse o caos. Como se fosse natural retirar do trabalhador sua fonte de sustento, sujeitando-lhe a pedir empréstimos, generosamente oferecidos pelo banco do Estado, ou a humilhar-se junto aos credores”, refere a magistrada no texto divulgado em 5/9.

Parcelamento de salários é o título do artigo de autoria da juíza do Trabalho Valdete Severo publicado no jornal Zero Hora. “Agimos como se não houvesse o caos. Como se fosse natural retirar do trabalhador sua fonte de sustento, sujeitando-lhe a pedir empréstimos, generosamente oferecidos pelo banco do Estado, ou a humilhar-se junto aos credores”, refere a magistrada no texto divulgado em 5/9.

PARCELAMENTO DE SALÁRIOS

Valdete Severo 

Juíza do Trabalho

Em seu livro A Peste, Camus retrata uma comunidade que é acometida por uma misteriosa epidemia. Primeiro morrem os ratos. Depois, as pessoas começam a morrer, sem explicação. Em meio ao caos que ali se estabelece, enquanto alguns poucos lutam para descobrir as causas da doença e auxiliar os sobreviventes, muitas famílias seguem trabalhando, indo ao mercado e mesmo ao teatro. Desviam a pilha de cadáveres, não questionam por que a família ao lado não está mais lá. Apenas seguem suas vidas. O livro foi escrito em 1957, quando o mundo defrontava-se com os acontecimentos da II Guerra Mundial. Talvez seu principal recado seja a necessidade de compreendermos nosso tempo histórico, o que acontece ao nosso redor. E agirmos para promover mudanças.

Hoje, no Estado do Rio Grande do Sul, o salário dos servidores públicos não está sendo honrado. A grande mídia, porém, pula os cadáveres e segue em frente, dando notícias da Expointer e exaltando os esforços do governo em pedir o perdão da dívida ao Planalto. Agimos como se não houvesse o caos. Como se fosse natural retirar do trabalhador sua fonte de sustento, sujeitando-lhe a pedir empréstimos, generosamente oferecidos pelo banco do Estado, ou a humilhar-se junto aos credores.

No livro de Camus, a convocação: “Se hoje a peste vos olha, é porque chegou o momento de refletir”. Ao naturalizarmos o descumprimento da obrigação mais grave de quem toma trabalho (o pagamento do salário), permitimos que o discurso do mal menor se instale. A partir de agora, tudo é permitido, porque sequer a contraprestação pelo trabalho que o Estado segue tomando, de nossos professores e policiais, está sendo honrada. Como falar em reposição salarial? Como lutar para não perder garantias duramente conquistadas? Como argumentar contra a terceirização?

É urgente recuperarmos nossa capacidade de indignação e reconhecermos o calote. O Estado fez uma escolha. Entre tantos gastos, optou por cortar salários. Não é razoável, não é necessário. É a maneira menos perigosa e mais fácil de cooptar o sentimento de todos, reforçando o discurso de que nada mais há a fazer. Como nos ensina Camus, a peste, muitas vezes, tem feição humana. Combatê-la implica evitar a postura de vítima e reconhecer a de carrasco. Implica, acima de tudo, não se acostumar ao mal, denunciá-lo e enfrentá-lo.

Fonte: Zero Hora

Data: 5/9/2015 

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