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ARTIGO – Fotografia ou a arte de descobrir

As magistradas do trabalho, integrantes da Diretoria da AMATRA, escrevem sobre temas que vão além do Direito. Leia o artigo “Fotografia ou a arte de descobrir” redigido pela desembargadora Vania Cunha Mattos.

 

Fotografia ou a arte de descobrir

Vania Cunha Mattos
Desembargadora Federal do Trabalho da 4ª Região e Diretora da AMATRA IV

A fotografia significa mais do que uma imagem ou mesmo a representação de algo concreto, fazendo parte da nossa própria memória.

As imagens refletem encontros e desencontros, lugares fantásticos que um dia vimos, pessoas que encontramos pela vida, mas, essencialmente, encontram o futuro e permanecem muito além da nossa própria existência.

Tenho muitas fotografias antigas que me foram transmitidas pelos meus bisavós, cartões fotográficos feitos por fotógrafos famosos da época, nas quais crianças sempre parecem tristes nos seus trajes rebuscados. Raramente sorriem. Os adultos em suas melhores roupas e, não raro, com uniformes completos e inúmeras condecorações.

Há também as fotos das pessoas que já partiram, e, por igual, do que um dia fomos – crianças, adolescentes, adultos com esperança. 

A fotografia traduz uma visão histórica e nos remete muitas vezes a fatos históricos reconstituídos graças as suas imagens.

Tenho um livro de Rose Neeleman e Gary Neeleman – Trilhos na selva – O dia a dia dos trabalhadores da ferrovia Madeira Mamoré (“ferrovia do diabo”) – empreendimento conduzido pelo americano Percival Farquhar, com mais de trezentos quilômetros e ligando Guajará-Mirim a Porto Velho, reconstituído graças ao acervo inestimável do fotógrafo oficial da empreitada Dana Merril e os da coleção do engenheiro E.T.Torres.

Parece fundamental que haja registro das pessoas comuns, que, sem qualquer objetivo, fotografam o cotidiano das cidades em que moram, as pessoas que cruzam os seus caminhos ou mesmo as paisagens ou acidentes da natureza.

Um interessante livro, editado por John Mallof, que adquiriu de uma casa de leilões de Chicago uma caixa com os negativos de Vivian Maier, uma babá profissional, que, entre os anos de 1950 e 1990, tirou mais de cem mil fotografias pelo mundo, da França a Nova York e dezenas de outros países. Esta fotógrafa de rua nunca mostrou as suas fotos, e se hoje são conhecidas, isto se deve ao historiador que soube reconhecer o talento de alguém absolutamente comum.

A fotografia ora nos conduz a tempos sombrios, como os de Auschwitz, ora a paisagens deslumbrantes. Cada vez que olho para determinadas imagens, estas me transportam para os lugares que gostaria de estar em determinados momentos.

Não há dúvida que a fotografia é uma arte: a arte de retratar o momento. E este vai permanecer para sempre, em preto em branco ou a cores, em negativo ou digital, mas indiscutivelmente com a visão do que restará no futuro de muitas coisas.

Neste dia oito de março, em que mais uma vez se comemora o Dia Internacional da Mulher, o registro que faço é que gosto de fotografar nas horas vagas ou nas minhas viagens, além de homenagear grandes fotógrafas, como Anna Atkins (1799-1871),  Dorothea Lange (1895-1965), Tina Modotti (1896-1942), Ilse Bing (1899-1998), Annie Leibovitz (1945), Sally Mann (1951) e Shrin Neshat (1957), as três últimas ainda em movimento. 

E somente o tempo e o futuro, poderão dizer se algumas imagens têm algum sentido. O certo é que as fotos, que abrangem um largo espaço de tempo, ficarão por aí, refletindo o passado e o presente e sua permanência ou não no futuro. 

Tudo se resume em captar o momento. 

 

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