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Precisamos falar sobre o suicídio

Precisamos falar sobre o suicídio

Jaqueline Maria Menta

Os indivíduos, não importando nível de escolaridade, intelectual, profissional, social, etc, confrontam-se com diversas formas de estresses na sucessão dos dias, seja no ambiente familiar, escolar, social ou profissional. As respostas dadas a tais estressores divergem de indivíduo para indivíduo. Alguns encaram como um fator que os impulsiona para o sucesso. Outros como um obstáculo para a execução dos atos mais corriqueiros da vida diária, adoecendo em razão de tais estressores.
Segundo o professor doutor Christophe Dejours, especialista em psicanálise, saúde e trabalho, há um novo sofrimento, o sofrimento ético que começa quando alguém aceita contribuir para coisas que seu senso moral desaprova, degradando a autoestima, a estima de alguém – não havendo mais lugar de prazer no trabalho, levando à depressão e ódio por si mesmo com risco à tentativa de suicídio e até mesmo suicídio no local de trabalho.
Essas questões são conhecidas e próximas da realidade da magistratura nacional. Com intensidade mais frequente que o ideal nos deparamos com notícias sobre suicídios de magistrados, quando esses assinam sua última sentença: a de sua própria morte.
Conforme dados da Associação dos Magistrados Brasileiros – AMB, no ano de 2012, 538 magistrados abandonaram a carreira, número esse acrescido das aposentadorias precoces. Isso demonstra que vários magistrados têm largado a profissão para ingressar em outras carreiras mais atrativas economicamente e sem tanta cobrança.
Os que continuam na carreira padecem porque o total de magistrados é insuficiente para a prestação de um bom serviço jurisdicional, ante a elevada litigiosidade brasileira. Isso resulta em um aumento de trabalho, o que gera mais estresse e insatisfação, seja pela sobrecarga de trabalho, seja pela cobrança de produtividade, com metas que nas quais há contabilização apenas de número de processos, sendo certo que não há proporcionalidade entre o volume do trabalho real e o quantitativo medido dessa forma.
Segundo pesquisa da Anamatra – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho – os magistrados são acometidos de depressão (no percentual de 41,5%) e de insônia (em 53,8%), afora outras enfermidades. Tão grave é o problema desse alto índice de doenças psíquicas que já se registra muitos casos de juízes que cometem o suicídio. Em novembro de 2009, um juiz de comarca do Norte do País suicidou-se no Fórum, depois de ter atendido a um advogado e uma promotora e realizado uma audiência; em agosto de 2011, uma juíza do trabalho atuante em Recife/PE, atirou-se do 11º andar do prédio onde funciona a Justiça Trabalhista. Em abril de 2012, um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, foi encontrado morto, em sua casa, com dois tiros no abdômen. Em março deste ano, um desembargador do TJ do Paraná foi encontrado morto em seu apartamento, tendo cometido suicídio com arma de fogo, segundo seus familiares, que também disseram que ele sofria de depressão. Também em março de 2018, magistrado do mesmo Tribunal de Justiça foi encontrado morto em seu apartamento. A principal suspeita é a de que ele tenha se suicidado. No último mês de agosto, um juiz do Tribunal de Justiça de Minas Gerais cometeu suicídio quando visitava um clube de tiro.
A quantidade de suicídios cometidos por magistrados alerta para o problema decorrente de doenças psíquicas relacionadas ao trabalho e/ou ambiente de trabalho. Precisamos falar sobre isso. Do contrário, o trabalho excessivo, a elevada responsabilidade da função da magistratura para a sociedade, a ausência de condições ideais de labor, dentre outras causas, cada vez mais contribuirão para termos profissionais desanimados e com depressão.
Conversar sobre os sintomas, e não ignorá-los, é o primeiro passo para obter a solução do problema. Se o deprimido deve esforçar-se para isso, cabe aos que receberem seu pedido de ajuda (amigos, familiares, colegas e profissionais) ouvi-lo, dialogar e colaborar para que haja o retorno à normalidade, à vida saudável. Uma simples conversa, com amigos, familiares, colegas e profissionais de saúde pode iniciar a busca pela solução do problema, a busca pelo tratamento e evitar que o caso se torne mais grave, afastando assim a possibilidade de ato tão extremo que é o cometimento do suicídio.

Diretora de Integração Regional da AMATRA IV

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