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Meu Primeiro Dia na Escola

Não, esta não é uma história da minha infância, tampouco sobre o início da vida escolar dos meus filhos, pois ainda não os tenho. Esse breve relato é sobre o dia que voltei à escola, agora na condição de Juíza. A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA) tem um programa que se chama Trabalho, Justiça e Cidadania (TJC), que é aplicado em várias cidades do Brasil.
Porto Alegre não tinha ainda o programa implementado. Ainda não tinha, já que, neste ano, a Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (AMATRA IV), com a conspiração de diversos fatores positivos, inclusive ações do Juiz do Trabalho Gustavo Vieira e do Secretário Estadual da Justiça e dos Direitos Humanos, Fabiano Pereira, a capital dos gaúchos iniciou o programa na Escola Estadual de Ensino Fundamental Toyama. Na escola, realizamos a formação dos professores em assuntos relacionados ao Direito do Consumidor, ao Estatuto da Criança e do Adolescente, ao Direito Penal, a abordagens psicológicas de determinadas situações enfrentadas pelos professores no âmbito escolar e, principalmente, ao Direito do Trabalho. Encontramos, nesta pequena escola, professores dedicados e interessados e, sobretudo, uma Diretora incansável, predestinada. Como disse, tudo conspirava a favor do programa. 

Faltavam as aulas para as crianças e adolescentes. Como faríamos? Afinal, não somos professores, e não é nada fácil transmitir conteúdo jurídico a cerca de 140 alunos da 5ª a 8ª séries. Esse dia chegou e dez juízes se envolveram com as aulas. Fomos surpreendidos por alunos atentos e participativos. Aqueles olhares curiosos e felizes não poderiam ser melhor estímulo para nós. Demos, enfim, um grande passo. Um passo que há muito se queria na nossa Associação. Pode parecer pouco, mas amanhã, quem sabe, atingiremos mais outras centenas de crianças e adolescentes do nosso estado. Hoje, como Coordenadora do TJC da 4ª Região, posso dizer que não sou mais apenas Juíza do Trabalho. Sou, também, agente de transformação da sociedade, contribuindo com a formação integral do aluno, ensinando para as crianças e adolescentes seus direitos e deveres e desmistificando a figura do Poder Judiciário. Eu e meus colegas abandonamos a solitária vida de julgador por algumas horas e plantamos uma semente em cada criança e adolescente que nos conheceu nessa escola. A semente da cidadania e da esperança por um mundo melhor e mais justo, onde todos tenham ciência de seus direitos e cumpram com seus deveres. Confesso que ser chamada de “Sora Carol” me tornou uma pessoa melhor, e os alunos da Escola Toyama são os responsáveis por isso. Outras escolas virão, e todas serão muito importantes para o programa. Da mesma forma, mais colegas participarão e saberão do que estou falando. Mas meu primeiro dia na escola… ah, esse sempre será lembrado como.

* Carolina Hostyn Gralha Beck, Juíza do Trabalho,
Diretora Administrativa da AMATRA IV,
Coordenadora do Programa Trabalho, Justiça e Cidadania na 4ª Região e membro da Comissão de Direitos Humanos da ANAMATRA.

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